Casa da Passarella Vindima 2009: o vinho que quer viver muito além da pandemia de 2020

Casa da Passarella Vindima 2009: o vinho que quer viver muito além da pandemia de 2020

A Casa da Passarella nasceu no fim da praga filoxera e acolheu um enólogo refugiado durante a 2o Guerra Mundial. Em 2020 lança um topo de gama que se vem juntar aos vinhos de mesa mais caros do país.

Quando o vinho foi engarrafado, em maio de 2011, o seu criador estava longe de imaginar que a apresentação seria feita em plena pandemia, com uma audiência composta por pessoas mascaradas (à exceção, naturalmente, do momento da prova). Considerando o portfólio atual, o Casa da Passarella Vindima 2009 é o vinho de mesa mais caro a ser lançado pela casa histórica — o preço de venda ao público está fixado em 195 euros — e Paulo Nunes, o enólogo, admite o paralelismo com outras referências do país em termos de valor, mas insiste que este reflete o investimento. Afinal, “há poucos topos de gama com este tempo de garrafa”.

A história do novo vinho da Casa da Passarella, fundada ainda antes da demarcação do Dão, região onde está inserida, não está isenta de coincidências curiosas que unem vinho e produtora centenária. O facto de o vinho ser lançado num ano tão atípico como 2020, depois de quase uma década em garrafa, faz lembrar outros detalhes simbólicos: “A Casa da Passarella foi fundada em 1892, ou seja, no período final da filoxera”, lembra Nunes, eleito “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos e pela “Grandes Escolhas” em 2020 e em 2017, respetivamente.

A filoxera diz respeito a uma epidemia que dizimou inúmeras vinhas por todo o continente europeu. De acordo com o Instituto da Vinha e do Vinho, a praga apareceu inicialmente na região do Douro em 1865 e rapidamente espalhou-se por Portugal, destruindo a maior parte das regiões produtoras de vinho. É nesse sentido que Paulo Nunes realça a decisão corajosa de “apostar em plantar vinhas” dado “o trauma muito recente”. Mas há mais: “Durante a Segunda Guerra Mundial houve um período em que os vinhos eram feitos por um enólogo francês judeu e refugiado”, comenta. “Ainda hoje temos práticas introduzidas por ele”. Ainda hoje têm a “Coleção O Fugitivo” em homenagem a Monsieur Hellis. A saga continua, com Paulo Nunes a recordar ainda que a compra da Casa da Passarella pela família Cabral aconteceu em 2008, altura em que a crise económica teimou em esvaziar bolsos. “E em 2020 lançamos este vinho. A Casa tem uma energia muito própria e dá-nos sinais de que somos capazes de ultrapassar crise após crise.”

 

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